O Instituto da Mulher Dona Lindu (IMDL), maternidade integrante do Complexo Hospitalar Sul (CHS), passou a adotar a técnica de extração de leite materno à beira do leito na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). A prática consiste na ordenha realizada pela própria mãe ao lado do bebê, promovendo o contato visual e físico entre ambos, mesmo em situações que impedem a amamentação direta.
Já aplicada nas unidades de cuidados intermediários e intensivos (Ucinca, Ucinco e UCI), a estratégia foi expandida à UTIN com o objetivo de aproximar mães e recém-nascidos internados, que, devido a complicações de saúde, ainda não conseguem mamar diretamente no seio materno.
A pequena Estella, nascida prematura com 29 semanas, foi uma das primeiras a se beneficiar da nova abordagem. Sua mãe, Eliene Nóbrega, relata a rotina com emoção: “Chego uma hora antes da dieta, faço a extração, manipulamos o pote, retiramos a quantidade indicada com a seringa e realizamos a gavagem”.
A técnica da gavagem — administração de leite por sonda diretamente no estômago — é comum em UTIs neonatais e essencial para bebês que enfrentam dificuldades de sucção ou deglutição.
Mais do que nutrição: vínculo, saúde mental e acolhimento
Além de preservar as propriedades nutricionais do leite materno, a extração à beira do leito contribui para o bem-estar emocional da mãe. “A prática reduz o estresse, estimula a produção de leite e fortalece o vínculo entre mãe e bebê”, destaca a secretária de Estado de Saúde, Nayara Maksoud.
Lucilane Andrade, mãe de Logan — também prematuro extremo — compartilha o impacto emocional da experiência: “Estar perto dele me dá paz. Saber que é o meu leite que está ajudando na recuperação dele me emociona. Hoje ele mamou direto no meu peito pela primeira vez. Foi muito emocionante”.
Prática segura e assistida
A implementação da técnica segue protocolos rigorosos de biossegurança. A coordenadora de enfermagem do IMDL, Maria Gracimar Fecury, explica que a equipe de enfermagem e pediatria foi capacitada, e as mães recebem orientação contínua para garantir segurança e eficácia no processo.
Segundo a supervisora de enfermagem da UTIN, Paula Macelly, a participação das mães é voluntária e respeita sua condição clínica. “Se ela está bem, tem autonomia para se mover e deseja participar, é autorizada. Nada é feito sem seu consentimento”, pontua.
O leite excedente coletado é encaminhado ao Posto de Coleta de Leite Humano (PCLH) da maternidade e posteriormente direcionado aos bancos de leite da rede estadual, fortalecendo as ações de incentivo à amamentação.
Aleitamento materno como compromisso institucional
Reconhecido pela Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC), o IMDL prioriza o aleitamento materno como estratégia fundamental de promoção à saúde. O leite materno protege contra infecções, doenças respiratórias e contribui para a redução de riscos como obesidade e diabetes ao longo da vida.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), o Unicef e o Ministério da Saúde recomendam o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida e complementado até os dois anos ou mais. Estima-se que mais de 1,5 milhão de mortes infantis poderiam ser evitadas no mundo com essa prática.
Para Eliene, amamentar continua sendo uma meta e um gesto de amor. “Ver minha filha mamando direto no peito, em casa, é tudo que eu quero. Até lá, sigo firme nessa jornada”, afirma.