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Barco-hospital leva atendimento médico a comunidade indígena a 270 km de Manaus: ‘Sentíamos falta de médico’, diz matriarca

Barco-hospital leva atendimento médico a comunidade indígena a 270 km de Manaus: ‘Sentíamos falta de médico’, diz matriarca

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Antes de ser conhecida como Brasil, a terra era chamada de Pindorama pelos povos indígenas. Entre esses povos estão os Mura, que vivem a cerca de 270 quilômetros de Manaus, no Amazonas. A distância dos centros urbanos dificulta o acesso a serviços de saúde. Por isso, a chegada do barco-hospital São João XXIII ao porto de Novo Remanso, distrito de Itacoatiara, trouxe alívio às famílias locais.

O distrito abriga 15 aldeias, incluindo a Correnteza, situada às margens do Rio Urubu, com 46 famílias e mais de 130 indígenas. A terra foi homologada em 1994 pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), garantindo sua demarcação e proteção.

No Dia dos Povos Indígenas, celebrado em 19 de abril, a comunidade recebeu a visita do barco-hospital, que oferece exames, medicações e cirurgias gratuitas. A embarcação é mantida pela Associação e Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus, de Jaci, interior de São Paulo. A expedição deste ano ocorre até 25 de abril em Novo Remanso, que possui cerca de 15,8 mil habitantes.

A matriarca da aldeia, Astrogilda de Carvalho Marques, de 76 anos, mãe do cacique, cultiva ervas medicinais extraídas da floresta. Embora eficazes, essas ervas não resolvem todos os problemas de saúde. Ela destaca a importância do projeto, pois o posto de saúde mais próximo exige uma viagem de 20 quilômetros por rio e mais 20 por terra.

“Sentimos muita falta de médico, para a nossa saúde, é difícil, não temos hospital, não temos médico direto. É preciso ir até Manaus, Itacoatiara. Temos que procurar outro meio. A gente quer agendar uma ficha para a gente ir lá, queríamos muito atendimento”, relata a matriarca.

Apesar dos desafios, o povo Mura mantém viva sua cultura. Nas pinturas corporais, nos cantos ancestrais em Nheengatu e nas danças em roda com os pés descalços, resistir é um ato cotidiano.

No dia 19 de abril, o cacique Elpídio Marques lembrou que ser indígena é um ato político. Ele é o terceiro líder da aldeia, sucedendo o avô, que assumiu a liderança em 1904, e o tio.

“Nós não deixamos nossa cultura morrer. A gente faz isso para fortalecer. Eu me sinto com satisfação. Conforme vai crescendo nosso povo, também vai ficando escasso, então, se a gente não fizer essa campanha de preservação, nós não temos como sobreviver”, detalha o cacique.

Na aldeia vizinha, Makira, o cacique Sérgio dos Santos Medeiros, que assumiu a liderança aos 20 anos, enfatiza a importância de manter as tradições.

“É uma data muito especial, porque fomos um povo muito massacrado no início, a nossa luta persiste, não é fácil, todas as vezes que a gente ‘corre atrás’ é uma luta. Falar que a gente existe e vamos resistir até o fim. Existe muito preconceito, mas temos que falar que somos indígenas. Nós éramos os primeiros aqui e vamos continuar”, afirma o cacique.

A presença do barco-hospital São João XXIII não apenas proporciona cuidados médicos essenciais, mas também simboliza o reconhecimento e respeito à cultura e resistência dos povos indígenas da região.

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